Capítulo 1

    Leo chegou na casa do avô Altz que há muito não via. Vinha se eximindo de vê-lo, porque lhe doía aquela visão. O vovô Altz sempre foi o mais altivo dos seres. Possuía um olhar vivo e penetrante. Mesmo octagenário, mantinha um andar sólido e ao mesmo tempo delicado, como se o mundo estivesse partido em escombros, mas o velho possuísse o dom de andar passo-a-passo no chão certo. E assim, Leo, sempre que estava aflito, pelas querelas da vida, refugiava-se no avô, que o acolhia serenamente, e sem palavras. Não havia consolo maior do que aquele silêncio. O braço dele trazia o garoto gentilmente para perto, transmitia-lhe ao ouvido a respiração compassada e amiga que acabava por dissolver a lágrima, reabsorvendo-a no corpo tranquilizado.

    A visão que doía ao Leo, agora, era do seu avô parado em uma cama, imóvel, magro, olhar perdido, como se sua alma não estivesse ali. Músculos tesos, como se se protegesse de algo.

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