Postagens

Primeiras memórias

       Suas primeiras memórias remontam aos cinco anos. Seu pai havia lhe dado uma bananeira de presente. Era coisa simples. Ele havia acabo de plantar a muda e lhe havia ofertado. Altz sentiu-se lisongeado. Seu pai era homem muito conhecido na cidade. Vinha gente de todos os cantos do interior para ter com ele. Era médico, o mais acreditado. Só não fazia milagres por não se achar taumaturgo. Cria mais na técnica que no dom. Não que menosprezasse os dons de outros, é que nele, até o momento, ganhara tudo no esforço. Desde criança aprendera a ler sozinho. Tomara gosto por romances de cavalaria. Saíra de menino-de-engenho rumo a um que migrara para capital para ser doutor. Primeiro lugar em tudo, caindo nas graças de uma paixão, nela fez quatro filhos, e recebeu uma por adotiva.      Foi do seu pai também que Altz teve as primeiras experiências com palavras misteriosas de poder. As receitas que ele emitia, em caracteres ininteligíveis, no início por inépcia de Altz, mais tarde por pecare

Capítulo 1

     Leo chegou na casa do avô Altz que há muito não via. Vinha se eximindo de vê-lo, porque lhe doía aquela visão. O vovô Altz sempre foi o mais altivo dos seres. Possuía um olhar vivo e penetrante. Mesmo octagenário, mantinha um andar sólido e ao mesmo tempo delicado, como se o mundo estivesse partido em escombros, mas o velho possuísse o dom de andar passo-a-passo no chão certo. E assim, Leo, sempre que estava aflito, pelas querelas da vida, refugiava-se no avô, que o acolhia serenamente, e sem palavras. Não havia consolo maior do que aquele silêncio. O braço dele trazia o garoto gentilmente para perto, transmitia-lhe ao ouvido a respiração compassada e amiga que acabava por dissolver a lágrima, reabsorvendo-a no corpo tranquilizado.      A visão que doía ao Leo, agora, era do seu avô parado em uma cama, imóvel, magro, olhar perdido, como se sua alma não estivesse ali. Músculos tesos, como se se protegesse de algo.